sábado, 3 de maio de 2008

Liberdade Metafísica


Segundo Rousseau “... Em geral, e necessárias as seguintes condições para estabelecer o direito do primeiro ocupante sobre um pedaço de chão. Primeiro a terra não deve estar habitada ainda. Segundo, o homem deve apenas ocupar a porção de que necessita para sua subsistência. Em terceiro, a posse efetiva deve-se dar pelo trabalho e cultivo...”; Entretanto, Rousseau não estabelece o real propósito do surgimento da propriedade privada na humanidade, que nada mais e do que uma conseqüência da manipulação da natureza pelo homem, portanto, a idéia de propriedade privada não faria sentido se, não houvesse a idéia (ainda que primitiva) de produtividade.
Através dos instintos
e das forças naturais em geral, a natureza dita aos animais, o comportamento que eles devem ter para sobreviver. O homem entretanto, graças ao seu desenvolvimento, conseguiu dominar em certa medida, as forças da natureza, colocando-as ao seu serviço.

Observa-se que no ciclo natural, os animais trabalham em prol exclusivamente de sua sobrevivência e daqueles o qual depende para sobreviver, justamente porque o trabalho humano é diferente dos demais animais, é que o homem modifica a natureza de acordo com suas vontades e possibilidades, contudo, no mundo atual, o trabalho assumiu características desumanas, uma vez que os trabalhadores que produzem os bens materiais, não se realizam como seres humanos nas suas respectivas atividades, pelo contrario, na indústria moderna do capital, o trabalho é odiado pelos trabalhadores, que o encaram como uma obrigação imbecilizadora que lhes é imposta e que os oprime. Se o trabalho e

é a mola do progresso e a grande fonte das riquezas, os trabalhadores vêem que esse progresso beneficia apenas a seus patrões (e não a eles) e percebem que a riqueza proveniente de seu trabalho, se concentra sobretudo nas mãos daqueles que já são ricos, tal fato ocorre porque como diz Marx “O produto do trabalho, não pertence ao trabalhador”, de fato, a criação a medida em que não pertence ao criador, se apresenta diante dele como um ser estranho, uma coisa hostil, e não como o resultado normal de sua atividade de modificar livremente a natureza, por isso, a maioria da população acaba nada possuindo a não ser a sua força de trabalho individual, desse modo, o trabalhador é forçado a vender essa força de trabalho. Essa venda se dá em condições desvantajosas para o trabalhador, já que o trabalhador (por ser a grande massa) tem mais urgência de vender sua força de trabalho (para atender suas necessidades básicas) do que aquele que detém o capital de comprá-la (para movimentar suas fabricas ou outros serviços).

Segundo a designação mais genérica, a escravidão e “regime social de sujeição do homem e utilização de sua força, exploradas para fins econômicos, como propriedade privada” logo, observa-se que a condição de escravo não se estabelece apenas em relação a aquele que está inteiramente sujeito a outro, mas também sujeito a alguma coisa. Indubitavelmente, a alienação que conduz não só o trabalhador mas, o individuo social a um estado de escravidão, afeta também a classe dominante (detentor do capital), em sua maneira de pensar, de agir e no modo de compreender a sociedade. Por isso, cria-se por parte dela instituições, que através de mecanismos ideológicos, as impões a quase toda a totalidade da sociedade, alegando que são da conveniência universal, que na verdade, serve apenas para manter a ordem social que lhes convém.

Mas a partir de certo ponto, essas instituições e mecanismos às vezes, escapam de seus controles e parecem ganhar vida própia, de maneira que tal como acontece com o produto do trabalho do trabalhador, a criação do capitalista também se acorrenta neles, e não permite que eles se reconheçam nela. Para ter um exemplo dessa escravidão dos capitalistas, basta pensar no mercado capitalista. Tal classe cria e alimenta o mercado para a venda de seus produtos e serviços, como porem, estão divididos e competem entre si, jamais conseguem controlar de fato esse mercado em conjunto; esse processo faz com que o mercado fique sujeito a movimentos inesperados e desequilibrados, que em função de tal sistema, provoca anomalias (esquemas protecionistas, barreiras alfandegárias, controles cambiais, juros predatórios, excessos de produtividade, especulações financeiras, Hot Money, recessões, Dumping, oligopólio, Trustes, cartéis) capaz de levar qualquer capitalista a falência. Em face disso, essa classe do capital, encaram o mercado criado por eles próprios, como uma realidade estranha e temível, em função da qual eles são obrigados a conviver, então, tornam-se escravos de sua própia criação.

No Brasil, a expressão “escravidão”, refere-se historicamente aos negros trazidos da África que eram subjugados e submetidos a trabalhos forçados e degradantes, todavia, por conta da estratificação social da época, onde não raro, ex-escravos irão continuar a estabelecer relações comerciais com seus ex-senhores e também adquirindo escravos, estabelecendo dessa forma um “Status Conditio in Societas”, ou seja, são elementos agregados individualmente a pessoa para que o próprio individuo seja reconhecido com grau de “elevada posição social”, onde tal ação, revela a filosofia mais torpe de uma sociedade do capital, o “ter” sempre em detrimento do “ser”. Com a abolição da escravidão em 1888, o negro (e a maior parte da população empobrecida) passa a fazer parte de uma nova concepção moderna de escravidão, conhecido sociologicamente como exclusão social, exclusão essa que, aliados às sucessões de governos débeis e aristocracia lancinante, recondiciona o individuo a um estado de escravidão aguda, escravidão que, a cada dia torna-se mais intensa e massacrante, tanto quanto como na época das “correntes e dos chicotes”.

Ainda que seja bastante critica, essa visão demonstra também, que a concepção de liberdade da maior parte da população brasileira, permanece ainda restrita apenas a preceitos básicos como votar, direito de ir e vir e liberdade de expressão, não que tais preceitos sejam irrelevantes, mas não podem ser únicos; Portanto, a figura do escavo não deve se limitar apenas a uma figura histórica, que se perdeu nos labirintos do tempo, pois, a condição de escravo se faz presente mais do que nunca nas modernas democracias, onde simplesmente, as relações entre senhor e escravo apenas mudaram de figura, em lugar das correntes e chicotes, uma sociedade cada dia mais desumana e um Estado cada vez mais opressor.


Amenophis Dyogenes Fantin Santana


Um comentário:

Anônimo disse...

Está tudo aí, mais valia, alienação, ideologia, propriedade privada, fisiocracia e capital. Belo texto; uma aula! Meus parabéns novamente!