sábado, 22 de setembro de 2007

Opinião


Das alegorias a nós tangentes

Natal Marques Dias*


“Sócrates – Agora leva em conta nossa natureza, segundo tenha ou não recebido educação e compara-a com o seguinte quadro: imagina uma caverna subterrânea, com uma entrada ampla, aberta à luz em toda a sua extensão. Lá dentro, alguns homens se encontram, desde a infância, amarrados pelas pernas e pelo pescoço de tal modo que permanecem imóveis e podem olhar tão-somente para a frente, pois as amarras não lhes permitem voltar a cabeça.[...]”

Platão, A República, livro VII


De dois em dois anos, por volta dos meses de outubro ou novembro ocorre um fenômeno que mereceria a atenção de todas as pessoas. São as bravatas eleitorais. O interessante é que elas são tão bem tramadas que se antecipam ao ano eleitoral para garantir uma boa impregnação das suas inverdades. Algumas delas são tão recorrentes e indigestas que não tem compromisso nem com a mentira, quiçá com a sofrida verdade. Esses “projetos” geralmente são encabeçados por senhores que já detém uma longa e infértil carreira política – quando falo longa carreira política entenda como uma volta a antes, durante e depois da ditadura militar – e que são profissionais políticos da pior espécie. Os que têm a coisa pública como sua, e fazem de cargos eletivos, verdadeiras cadeiras cativas, num processo que não poderia de forma alguma – pelo método empregado – trazer ao povo o mínimo benefício.
No sul do Estado do Maranhão várias idéias como essas estão sendo vendidas. De memória poderíamos citar; o descaramento que é a questão dos garimpeiros da Serra Pelada – onde o verdadeiro garimpeiro de votos todos conhecem, ele foi da laia dos generais, só para dar uma dica. Dezenas desses senhores que arriscaram a vida contra a malária e a violência comum nos garimpos, hoje sofrem nas mãos de determinados malfeitores na esperança de recebimento de um valor pecuniário. Por muito tempo, outra plataforma de campanha foi a usina hidroelétrica que será construída na cidade de Estreito. O sistema elétrico nacional forçou, através da necessidade, que essa obra fosse realmente iniciada; mas, até o dia do seu início, foi alvo dos urubus do sufrágio. Uma falácia nova, e até irreverente, é a reestatização de uma das maiores empresas de mineração do mundo, a Companhia Vale do Rio Doce, vendida a preço de banana durante o governo FHC. Encontros e debates sobre o tema são os eventos do momento; há muita gente engajada nessa luta surreal. Um processo que para ser possível levaria décadas, e que já hoje é bandeira de aproveitadores. Contudo, o que empolga mais a população em geral, tem haver com o ufanismo hodierno que é a criação do “Estado do Maranhão do Sul”, cuja capital, preferencialmente, seria a cidade de Imperatriz.
O Estado do Maranhão é um dos mais atrasados em um país que ainda engatinha em direção ao desenvolvimento. Um IDH baixíssimo, uma população, em sua grande maioria miserável, - e o que é pior, sem saber que é miserável – sem acesso a serviços públicos básicos e muito menos a uma educação de qualidade. Esse cenário – que foi muito bem preparado – é propício a uma cáfila de políticos descomprometidos com a sua função representativa. O Sul do Maranhão é palco para uma manifestação de idéias nefastas e odiosas. Nefastas pela sua forma vil, pelo seu maltrato silencioso, e odiosas pelo descaramento de quem as divulga.
O “Maranhão do Sul” e tudo o que ele representa, é uma covardia desmedida. Um ato de deslealdade, um gesto sádico, brutal. E o é tudo isso, pelo seu caráter de encobrimento da realidade dolorosa. Uma representação de um futuro duvidoso, uma soteriologia irresponsável, em detrimento de uma realidade que está caída há muito na poça de lama da desgraça coletiva. A essa idéia cabe a analogia clássica do fundo do poço, somada a uma pá. A pá é a ferramenta necessária para ir além no infortúnio, chegando mais perto do desfecho sem descrição.
No mês de março do ano corrente foi aprovado no senado o pedido para realização do plebiscito que decidirá pelo desmembramento da parte do Estado do Maranhão em questão. No caso de aprovado pelo plebiscito, o pedido, terá de passar pelo crivo do legislativo – onde serão divididas as vantagens – e só depois poderá ser encaminhado um projeto de lei para a apreciação de todas as instâncias. O leitor que conhece a noção de tempo dos trâmites políticos e jurídicos brasileiros já viajou alguns anos nas linhas acima - eu diria uma década ou mais. Não é interesse de nenhum dos senhores líderes desse “projeto” que uma idéia tão produtiva – eleitoralmente falando – se torne realidade antes que todas as fontes de aproveitamento tenham sido esgotadas.
O sul do Estado do Maranhão carece de um incentivo é verdade. Um incentivo, todavia, não necessita ser amparado por uma mentira insólita. Os poucos movimentos sociais sérios deveriam sugestionar a grande massa a uma luta por uma educação mais digna e comprometida pelo menos, com os baixos níveis do próprio país. Os projetos não poderiam jamais atropelar uma base da população e acreditar que depois salvaremos os pobres que ficaram pelo caminho num retorno triunfante de uma estrada pelo desenvolvimento. Sou pelo sul do meu Estado, assim como sou pelo norte, oeste e leste, sem hipocrisia; desconfio de toda solução que não encare a educação como o estandarte, que não compartilhe com todos, os frutos das vitórias que já tivemos ao invés de plantar mais para depois distribuir. Idéias como essa criam lacunas na História, vacâncias que poderiam ter sido preenchidas com revoluções silenciosas e abrangentes, em favor de todos e pelo desenvolvimento comum.



*Estudante de Direito do primeiro período da Faculdade de Imperatriz, Facimp. Graduando do curso de Licenciatura em História na Universidade Estadual do Maranhão.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom muito criativo e também muito rico em conhecimentos.
Pois a Area de Sireito é muito valiosa,
esse curso tem como objetivo analisar situações inerentes.
Seria ate uma catástrofe falar mal de Promotor, Advogado, Juíz, Oficial de Justiça, sem ao menos conhecer um pouco de Leis.
Muito legal.