terça-feira, 22 de abril de 2008

Os Brasis de Isabella


A morte da menina Isabella Nardoni no último dia 29 de março chocou o país. Quase um mês depois de a menina ter sido encontrada no jardim do prédio onde seu pai morava junto com a madrasta e seus dois meio-irmãos, a polícia ainda não concluiu o inquérito que até agora aponta o pai e a madrasta como principais suspeitos. A tese da defesa é de que existiu uma terceira pessoa no apartamento e que essa pessoa teria assassinado a menina. Apesar da celeridade pouco comum, o caso já é visto como demorado devido a pressão imposta pelo público induzido pela mídia.

Assassinato infelizmente é um crime comum em nosso país. No Brasil há em média 100 assassinatos por dia com o uso de arma de fogo; não contabilizando os outros meios disponíveis para ceifar a vida de alguém, uma centena de pessoas morre todos os dias através das armas que estão nas ruas. Os dados são da ONU, que na mesma pesquisa divulga que destes 100 assassinatos a metade ocorre nas duas maiores cidades do país: São Paulo e Rio de Janeiro. E cita ainda outro dado interessante: 32,5% dos homicídios ocorrem entre os jovens.

Isabella era uma criança de cinco anos de idade; no dia que morreu – segundo entrevista concedida pelo próprio pai à Rede Globo – a menina brincou com os irmãos, andou de “moto-elétrica” e fez compras no supermercado. A pesquisa da ONU também constatou que crianças de seis anos, a mesma faixa etária de Isabella, já trabalham no crime de tráfico como carregadores de drogas e estão expostos a tiroteios e punições por parte dos “donos de boca”, bem como a probabilidade de se tornarem viciados é quase de cem por cento. Essas crianças não têm acesso ao lazer e estão com a infância condenada.

Nos últimos dias estiveram em Imperatriz os parlamentares que compõem a CPI do índio. Os deputados desembarcaram com a missão de investigar o porquê da morte de 16 crianças indígenas desde 2007 no estado do Maranhão. A comissão encontrou – o que já se esperava – um circo armado entre FUNASA e FUNAI quanto as responsabilidade de cada um. A comissão partiu em seguida para o estado de Roraima. Talvez não tenham sido avisados da pressa que se tem quando se está doente e subnutrido; bem como já deviam ter concluído que burocracia não enche barriga de ninguém.

Xuxa, Ivete Sangalo, Hebe Camargo, Padre Marcelo Rossi, Claudinha Leite, Xororó e outros já se manifestaram pedindo justiça e em solidariedade à mãe da menina Isabella Nardoni. Diversas pessoas estão montando campanha em frente à porta dos acusados, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. Entre outras coisas de baixo calão se escutam gritos de ameaças de linchamento. A mídia tornou o assassinato de uma menina em evento nacional. Isabella é, sem dúvida, o grande nome em destaque nesse país miserável.

Quando o povo clama por justiça? Quando uma menina branca e com um futuro promissor morre tragicamente? Que bom. Quando um povo pede para ser humilhado? Quando a “molecada” disputa uma lata vazia de cerveja que está no chão enquanto o Xororó está no palco! Quando um povo sente dor e não grita? Quando seus filhos têm de vigiar carros na porta da casa de shows enquanto Ivete canta lá dentro: E vai rolar a festa\ Vai rolar\ O povo do gueto mandou avisar!


Natal Marques Dias